Era aniversário de uma
amiga minha e a comemoração foi em um bar na Vila Olímpia. Sábado à noite,
tomei banho, abri o guarda roupa e escolhi minha melhor roupa para me vestir.
Vesti uma camisa Armani Exchange que ganhei de um tio rico ausente, como se um
presente como esse compensasse sua ausência da família, ou talvez ele fizesse
isso para esbanjar sua riqueza diante de seu irmão (meu pai) que nunca foi um
exemplo de sucesso. Coloquei um relógio Guess que ganhei de minha madrinha
também rica que adora mimar o afilhado com bens materiais porque é a única
coisa que ela tem em sua vida. Passei um perfume One Million da Paco Rabanne.
Esse fui eu mesmo que comprei, juntando um dinheiro da minha remuneração de
estagiário e pedindo para minha prima patricinha que comprasse em uma Duty Free
Shop após sua viagem à Londres bancada pelo pai. Olhei-me no espelho, estava
bonito, eu sou bonito. Embora tenha percebido que as marcas de roupa que
estavam me vestindo poderiam ofuscar outros valores não-estéticos meus. Saí na
rua e fui rumo ao ponto de ônibus, o ônibus demorava enquanto a ficha começava
a cair. A quem eu quero enganar? Essa roupa, esse cheiro, esses acessórios,
este não sou eu. Cara de almofadinha de role de busão pela madrugada. Cheguei
na balada. Os acontecimentos seguintes são irrelevantes pra mim, talvez eu já
tenha chegado a um ponto em que tenho preguiça até mesmo de botar meu senso
crítico para funcionar e tentar formular melhoras para o padrão de vida da
juventude moderna que não vai mais mudar. Desisti. “O que você faz da vida?”,
“Mora onde?”, “Tem carro?” e mais uma séria de perguntas que sempre tenho
vergonha de responder. Todos em suas análises estéticas, materiais e
superficiais, todos me avaliando pelo meu cabelo penteado, pelas minhas roupas
e por características fúteis que não possuo, como se tudo aquilo fosse uma
série de virtudes para eles. Fui embora cedo e não me incomodei mais em esperar
sozinho a minha volta para casa no ponto de ônibus. A quem eu queria enganar? Aquilo não era eu. Da próxima vez em que for colocado na mesma situação, me
apresentarei de tênis gasto, camiseta largada e pulseirinha do reggae para que
as pessoas possam ver como eu realmente sou. Talvez isso desperte a vontade das
pessoas em me conhecer melhor e me valorizar pelo que sou, e não pelo que
aparento. Talvez isso realce melhor a cor dos meus olhos verdes e a nobreza do
meu espírito.
Créditos:
catalepsiaprodutiva.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário
'Venha quando quiser, tem espaço na casa e no coração.'
(Caio Fernando Abreu)