terça-feira, 19 de março de 2013

Armani de rolê pela cidade



Era aniversário de uma amiga minha e a comemoração foi em um bar na Vila Olímpia. Sábado à noite, tomei banho, abri o guarda roupa e escolhi minha melhor roupa para me vestir. Vesti uma camisa Armani Exchange que ganhei de um tio rico ausente, como se um presente como esse compensasse sua ausência da família, ou talvez ele fizesse isso para esbanjar sua riqueza diante de seu irmão (meu pai) que nunca foi um exemplo de sucesso. Coloquei um relógio Guess que ganhei de minha madrinha também rica que adora mimar o afilhado com bens materiais porque é a única coisa que ela tem em sua vida. Passei um perfume One Million da Paco Rabanne. Esse fui eu mesmo que comprei, juntando um dinheiro da minha remuneração de estagiário e pedindo para minha prima patricinha que comprasse em uma Duty Free Shop após sua viagem à Londres bancada pelo pai. Olhei-me no espelho, estava bonito, eu sou bonito. Embora tenha percebido que as marcas de roupa que estavam me vestindo poderiam ofuscar outros valores não-estéticos meus. Saí na rua e fui rumo ao ponto de ônibus, o ônibus demorava enquanto a ficha começava a cair. A quem eu quero enganar? Essa roupa, esse cheiro, esses acessórios, este não sou eu. Cara de almofadinha de role de busão pela madrugada. Cheguei na balada. Os acontecimentos seguintes são irrelevantes pra mim, talvez eu já tenha chegado a um ponto em que tenho preguiça até mesmo de botar meu senso crítico para funcionar e tentar formular melhoras para o padrão de vida da juventude moderna que não vai mais mudar. Desisti. “O que você faz da vida?”, “Mora onde?”, “Tem carro?” e mais uma séria de perguntas que sempre tenho vergonha de responder. Todos em suas análises estéticas, materiais e superficiais, todos me avaliando pelo meu cabelo penteado, pelas minhas roupas e por características fúteis que não possuo, como se tudo aquilo fosse uma série de virtudes para eles. Fui embora cedo e não me incomodei mais em esperar sozinho a minha volta para casa no ponto de ônibus. A quem eu queria enganar? Aquilo não era eu. Da próxima vez em que for colocado na mesma situação, me apresentarei de tênis gasto, camiseta largada e pulseirinha do reggae para que as pessoas possam ver como eu realmente sou. Talvez isso desperte a vontade das pessoas em me conhecer melhor e me valorizar pelo que sou, e não pelo que aparento. Talvez isso realce melhor a cor dos meus olhos verdes e a nobreza do meu espírito.

Créditos: catalepsiaprodutiva.blogspot.com




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(Caio Fernando Abreu)