sexta-feira, 6 de maio de 2011

Paz e Vida


 

'Às vezes, na estranha tentativa de nos defendermos da suposta visita da dor, soltamos os cães. Apagamos as luzes. Fechamos as cortinas. Trancamos as portas com chaves, cadeados e medos. Ficamos quietinhos, poucos movimentos, nesse lugar escuro e pouco arejado, pra vida não desconfiar que estamos em casa. A encrenca é que, ao nos protegermos tanto da possibilidade da dor, acabamos nos protegendo também da possibilidade de lindas alegrias. Impossível saber o que a vida pode nos trazer a qualquer instante, não há como adivinhar se fugirmos do contato com ela, se não abrirmos a porta. Não há como adivinhar e, se é isso que nos assusta tanto, é isso também que nos dá esperança. É maravilhoso quando conseguimos soltar um pouco o nosso medo e passamos a desfrutar a preciosa oportunidade de viver com o coração aberto, capaz de sentir a textura de cada experiência, no tempo de cada uma. Sem estarmos enclausurados em nós mesmos, é certo que aumentamos as chances de sentir um monte de coisas, agradáveis ou não, mas o melhor de tudo, é que aumentamos as chances de sentir que estamos vivos. Podemos demorar bastante para perceber o óbvio: coração fechado já é dor, por natureza e não garante nada, além de aperto e emoções mofadas. Como bem disse Virginia Woolf, 'não se pode ter paz evitando a vida.'

(Ana Jácomo)

Um comentário:

  1. Ah. Que lindo, a Ana é incrível, eu amo!
    Me caiu tão bem essas palavras.
    Escritas para acalmar meu coração, que estava querendo se trancar, fugir da vida.
    Mas como bem disse Virginia Woolf, 'não se pode ter paz evitando a vida.'

    Eu adorei imensamente este texto!

    Teu blog é um encanto!
    Me perdi neste céu de palavras.

    Beeijos meus*
    Muito obrigada pelo carinho, flor, estarei sempre aqui, me banhando de luz.

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'Venha quando quiser, tem espaço na casa e no coração.'

(Caio Fernando Abreu)